Os grandes amores são aqueles que nunca foram . Não sei se criei essa frase ou se li em algum lugar, sinceramente não me lembro. Muito estudo, memória fraca. E se estou plagiando alguém me processem, por favor. Sei que isso ficou marcado nesses espaços sentimentais que a vida nos permiti preencher e nesses amores que a vida nos dá de presente e nos tira sem pedir permissão.
Quatro anos atrás, cinco horas da manhã. Eu já de pé, olheiras profundas, o café não tomado e o arrependimento de não ter comido nada,embora eu nunca tenha gostado de tomar café da manhã. Ninguém na rua, só a tristeza de ter que acordar cedo. Tanta vida do lado de fora das nossas obrigações. Vestido com o velho uniforme do colégio, sempre amassado, e carregando aquela velha ilusão adolescente que algo diferente vai acontecer. Nunca acontecia, ou quase nunca. Eu sempre saia bem cedo, dormia pouco e ás vezes deixava de tomar banho pra dormir mais cinco minutos. Cinco minutos que sempre viravam dez ou vinte. Era só mais um dia em que eu esperava o ônibus naquele velho ponto que nem lugar pra sentar tinha, “uma coluna de cimento com um toldo por cima”, como dizia um colega meu.
Como de costume, ás 5:20 eu estava lá pronto pra mais um ônibus, quando ela apareceu. Baixinha, meio fora de forma, um cabelo preto deslumbrante. Aquele ar de imperfeição e delicadeza que deixam as mulheres mais belas. Trocamos olhares. Aqueles olhos que jamais vi iguais, daqueles que entram em você e fazem a vida mais bela e quase ter um sentido. A vida é engraçada ás vezes e trágica quase sempre.
A partir daquele dia nos encontrávamos sempre debaixo da coluna de cimento com o toldo por cima. Eu a amava. Amor infantil ,sim, mas amor. Talvez, seja o amor que mais marcou a minha adolescência e que até hoje guardo grandes saudades. Os olhares que trocávamos eram sempre mágicos, os minutos que passávamos ali juntos esperando o ônibus eram pra mim o único prazer e a principal motivação da minha vida, uma vida que se dividia em estar com ela e esperar para estar com ela.
Nunca brigamos, nem tivemos problemas,aliás, nunca conversamos. Talvez esse tenha sido o grande mérito do nosso “relacionamento”, nunca nos conhecemos de fato. Ela era meu ideal, o mito do amor romântico, o conto de fadas, o lindo amor platônico. O amor real teria matado meus sentimentos sem piedade. A dureza , o amor capitalista e claustrofóbico não teria sido tão belo e não teria deixado pra mim uma das minhas saudades favoritas.
Terminei o colégio e nunca mais a vi. Depois de algumas eleições e aumentos de tarifa do ônibus, os pontos foram modernizados e o velho ponto caiu vítima do progresso. Hoje, quando passo naquela rua em que morava há alguns anos atrás e vejo o lugar onde ficava aquele velho ponto, só me resta o consolo de saber que foi um grande amor, e foi um grande amor por nunca ter sido.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Amo chocolate amargo
Mais um dia barato pra adicionar na conta, mas um dia que parece tão escuro como todos os outros. Como o chocolate amargo, o prazer da primeira mordida é sempre diminuído quando se sente o sabor com profundidade , quando se acha que a doçura vai se manter só resta o amargo.
Não que eu esteja brigado com a vida ou não a queira mais, mas ela que já não me quer. Festas, bebedeira, putaria. Tudo muito lindo, fútil e superficial. Essas coisa baratas já não me dão mais prazer.
Sentado no chão frio e solitário da faculdade, me vem a cabeça “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Os gritos profundos do Kurt Cobain, a letra , a performance de quem sente a vida como uma punhalada. Uma punhalada, talvez essa seja a melhor definição do que sinto. Não fazem músicas como antigamente, nem dores existenciais. Hoje nos satisfazemos com Cláudia Leite e bobeiras do cotidiano.
Nesse mundo de amizades de conveniência , o desespero é uma vergonha, pensar é uma vergonha, ser algo é uma vergonha. Peço perdão pela vergonha que sou, mas peço perdão com profundo pesar , ao som de Cláudia Leite e com chocolate amargo. O que seria da vida sem chocolate amargo?
Não que eu esteja brigado com a vida ou não a queira mais, mas ela que já não me quer. Festas, bebedeira, putaria. Tudo muito lindo, fútil e superficial. Essas coisa baratas já não me dão mais prazer.
Sentado no chão frio e solitário da faculdade, me vem a cabeça “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana. Os gritos profundos do Kurt Cobain, a letra , a performance de quem sente a vida como uma punhalada. Uma punhalada, talvez essa seja a melhor definição do que sinto. Não fazem músicas como antigamente, nem dores existenciais. Hoje nos satisfazemos com Cláudia Leite e bobeiras do cotidiano.
Nesse mundo de amizades de conveniência , o desespero é uma vergonha, pensar é uma vergonha, ser algo é uma vergonha. Peço perdão pela vergonha que sou, mas peço perdão com profundo pesar , ao som de Cláudia Leite e com chocolate amargo. O que seria da vida sem chocolate amargo?
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