domingo, 28 de junho de 2009

Ele só queria amar qualquer coisa

Cigarros em cima da mesa, as janelas fechadas e um pouco de mofo no canto da estante."You'll Never Walk Alone" tocava no computador. Ele havia descoberto, dias antes, a música em um blog de um escritor barato. Embora fosse pessimista, essas ilusões de que não estamos sós lhe davam um certo conforto. "As ilusões tornam a vida suportável" aprendeu muito cedo.

A pequena janela do msn não parava de piscar.

"Ale, vc ta ai?"

"To sim, tia"

"Ale, ouvi falar q vc ta depre mas vc tem q parar com isso. jah n basta o meu cancer?" disse ela tentando segurar a raiva.

Sem resposta. Ela continuou.

"Vc n ve as pessoas q estao doentes no araujo jorge, no sao Cotolengo, ow eu?"

"tia, existe uma diferença entre nos. O problema n eh o sofrimento. Sofrer? todos sofrem. Eles e vc sofrem mas amam a vida, eu n. Axu q eu sou mais doente q todos. Não amar a vida é uma doença incurável em mim.Eu só queria amar qualquer coisa..." era quase um grito de desespero.

Pra ela era inaceitável, mas ele via isso como uma filosofia.Sofrer era fácil, mas não amar...Porque viver se não se ama nada que justifique a vida? E ele nem acreditava no amor romântico."You'll Never Walk Alone" continuava tocando. Ele só queria acreditar cada vez mais na música.

"Walk On! Walk On! With hope in your heart"














(Tia, será que você me perdoa?)

O amor é o ridículo da vida

Tá bom, eu não acredito no amor
Mas mesmo que eu acredite que o mundo é quadrado
Ele não vai deixar de ser redondo, certo?





Ela me faz sentir algo que eu não consigo explicar
Mas enfim, palavras saem quando sentimentos entram no palco
Eu já não tenho palavras para continuar a escrever...
Só espero que o espetáculo termine logo.













O Ministério da Saúde adverte:
Tomar rémedio controlado provoca postagens sem sentido